O despojamento que a linguagem coloquial perpassa, no entanto, mal disfarça uma acuidade ímpar no trato das palavras. Mesmo simbolicamente nu, o escritor porto-alegrense compõe-se cuidadoso – ainda mais quando seu propósito é a crítica aos estranhos costumes brasileiros neste jovem século. Família, cidade, política, amor, esportes, sexualidade, religião… Nada parece escapar de seu olhar curioso e análise sensível. Aliás, é a primeira vez em seus livros que Penz assume como estratégia preponderante a crônica em primeira pessoa – grau de exposição máximo.
Ao longo das páginas, são frequentes as crônicas inspiradas em notícias de jornal. Um exemplar delas empresta o nome ao livro, graças a curiosa nota sobre uma greve de sexo das mulheres no Togo. Por sua vez, o toque de poesia contido nas crônicas sobre o amor pode ser resultado de alguma contaminação lírica de autores como Antônio Maria, Rubem Braga e Paulo Mendes Campos, influências de suas aulas de oficina literária. O humor, inspirado por Verissimo, fica evidente em Uma visita ao Analista de Bagé, e o próprio exercício do gênero é contemplado na abertura do livro com Achados e perdidos.
Por fim, como salienta o jornalista Luiz Rivoiro na apresentação, Greve de Sexo e outras crônicas não é livro de um escritor recluso, e sim obra de quem circula pela cidade. Mais do que circula, faz das ruas seu endereço comercial – a Santa Sede, sua oficina literária, acontece num botequim, lugar consagrado por Noel Rosa como sendo o escritório do malandro. Resulta, também, do atento ouvido de um músico a conduzir raciocínios sem perder o ritmo. E referenda um gênero que, de tão íntimo com o leitor, não traz pudores, e sim palavras nuas.
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