cronica inspirada na obra de Jean Michel Folon

A casa do povo

Autora: Michele Justo Iost

Talvez precise de mais tempo para entender, admirar, estabelecer uma clareza de como definir certas pessoas. Possivelmente terei muitas outras para acrescentar à lista de preferências, porém, nesta ocasião nenhum outro exemplo caberia melhor a não ser Carlos Páez Vilaró – artista plástico Uruguaio – e “nossa” Casapueblo, com suas paredes tão brancas e irregulares, com seu sol tão brilhante e sedutor, com centenas de pares de olhos curiosos e deslumbrados.

Vilaró tinha como inspiração o entardecer da pequena cidade Punta Ballena e sonhou que o maior número de admiradores pudesse apreciar viçoso horizonte. Junto com pescadores, construiu um refúgio denominado Casapueblo, onde ele pôde esculpir, pintar, viver, criar, receber amigos, e morrer. Aos que visitam a casa do povo, Vilaró deixou o bem-estar das portas abertas, do café da tarde, das poesias musicadas, dos sóis em cores e expressões. A humildade e acolhimento, visíveis na despedida dos poentes diários, fez com que até Vinicius de Moraes, tomado de admiração pelo amigo, se inspirasse ao criar versos e trazê-los ao calçadão do Rio de janeiro. E o calçadão inspirou músicas e as músicas inspiraram textos e os textos inspiraram outros textos, outras artes, outras criações. Uma rede grata pela existência de pessoas demasiadamente brilhantes no que fazem. Gente com sede de satisfação intimista.

Janis Joplin, Clarice Lispector, Wood Allen, Papa Francisco, Pelé; Marias, Paulos, Josés, Anas. Todos que têm uma paixão visceral pelo que escolheram, descobriram algo que exorcize suas revoltas e acabaram florescendo o caminho dos outros.

Vez ou outra, ao acabar algum consumo artístico, tenho vontade de correr até o autor e abraçar por tempo indeterminado. Claro que isso não é viável, porém, minha gratidão automaticamente se transforma em inspiração descarada. A alegria transparece na mudez de olhos berrantes.

Se Shakespeare continua a colecionar leitores, devemos manter a esperança na salvação cultural. Um entusiasmo, mesmo que passageiro, pode virar perpétuo.

E me perdoem os fãs do conservador amor romântico, mas a paixão desvairada me parece bem mais inspiradora.


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