Ir para o exterior. Viajar de avião. Aquele homem sonhava com isso talvez desde os vinte. Agora tinha mais de quarenta. Comprou um pacote de viagem em dez prestações. Conversou com a agente. Manifestou seus temores, seus medos. Medo de avião. Medo de avião todo mundo tem. Mesmo com medo, quem pode voa. A maioria dos que podem voa. Ah, São Belchior e o medo de avião. Não vou segurar a mão de ninguém. A agente disse que os translados no destino eram garantidos, incluídos no pacote. Tranquilos. E o medo de ser deportado? De não ser admitido? “Que nada!” A agente é taxativa. “Não vai acontecer. Nunca acontece com nossos vizinhos.” No dia do voo era fevereiro, era verão. Aquele homem suava. Suava desde o táxi que o deixara no aeroporto. Suava no aeroporto, que era climatizado. Suava de nervoso. Apresentado ao duty free nada comprou por conta do dinheiro contado. Pelado, mas fascinado com o colorido dos vidros de perfumes e das garrafas de bebida. Impressionado com o preço das roupas de grife. Mesmo no duty free. Chamada para embarque. Filas. Entrada no avião. Assento à janela. Espera. Espera. Espera. Todos acomodados. Cintos apertados. Instruções da parte dos comissários. Aviso de decolagem autorizada. O avião tomou velocidade. Aquele homem fechou os olhos. Depois os abriu. O avião levantou voo. Para trás ficaram o aeroporto, o rio, a cidade natal. Veio o aviso de dez mil pés de altitude. Pela janela tudo pareceu pequeno. No exterior do avião havia o frio. Dentro daquele homem o fascínio. Aquela viagem estava apenas começando.