– Motivo da viagem?
– Turismo.
– Turismo?
– Sim. Turismo.
O oficial olhou nossos passaportes. Olhou para nós. Depois chamou uma colega que nos pediu que a acompanhássemos. Entramos em uma salinha, e um homem já estava ali. Devia ser outro oficial. A mulher pediu para abrirmos as malas. Abrimos. Retirou nossas roupas e calçados. Avaliou o pote se xampu, o perfume. Olhou com atenção nossa farmacinha de viagem.
– Primeira vez aqui, certo?
– Sim. Nossa primeira viagem internacional.
– Por que decidiram vir para cá?
– Porque é bonito nas fotos. É grande. E é mais quente que a Inglaterra. Mais barato também.
Eu podia dizer que nosso pai é professor de História e Geografia. Que tinha feito pós-graduação, pesquisando este país que estamos querendo visitar. Tinha nos contado sobre a escravização de pessoas do nosso continente, embora a maioria fora de onde hoje é o nosso país. Parece que a maioria dos escravizados era da área tropical, na costa do Atlântico, onde hoje fica a Nigéria, Gana, Benin. Também da vizinha Angola. Ele falava que aprendeu que os escravizados produziram a riqueza deste país nas lavouras de açúcar e café, e também na mineração de ouro. Didático, papai falava de trezentos anos de escravidão no país. E quando a escravidão foi abolida, os escravizados e seus descendentes foram em grande parte marginalizados. Com os piores empregos, e morando nos piores lugares. Os antigos senhores os chamavam de preguiçosos. Ainda hoje há consequências dessa história.
Papai não recomendou que viéssemos. Disse que aqui a polícia era semelhante à polícia do apartheid com as pessoas negras. O apartheid acabou antes de nascermos, mas ouvimos e lemos sobre ele. Contudo queríamos vir. Viajar era uma espécie de presente antes de irmos para a faculdade. E aqui é bonito nas fotos. E dizem que as pessoas são acolhedoras.
– Onde vocês vão ficar hospedadas? – A mulher nos encarava depois de terminar de examinar a bagagem. Mostramos a reserva do hotel no celular.
– Ok.
Voltamos para a área do desembarque. Falou com o homem que nos recebeu. Ele carimbou nossos passaportes. Olha olhou para nós:
– Bem-vindas.