Imaginando a natural relevância que se esperaria da Academia Brasileira de Letras, seria este o eterno bate-papo entre Drummond e Quintana em suas poses de bronze na Praça da Alfândega, em Porto Alegre? Afinal, ambos despontam entre os muitos célebres ausentes a contrastar com os tantos indignos presentes na instituição. Se sim, Mário teria mais queixas do que Carlos. Até onde eu sei, o poeta mineiro não mandou sua cartinha pedindo para entrar na paróquia. Ao contrário, o gaúcho tentou por três vezes sem sucesso e, na quarta, mesmo com a promessa de alcançar o objetivo, findou por retirar-se da disputa.
Houvesse mandado o pedido, Drummond veria preterido seu nome? É perigoso ancorar linhas de raciocínio em hipóteses. Ainda assim, arrisco o não. E vamos deixar claro que o critério para meu palpite não é qualitativo: é uma questão de CEP. Ou seja, deixando Minas Gerais para morar no Rio de Janeiro em 1934, centro cultural brasileiro, sua presença restaria imposta até mesmo diante de um eventual desconforto nascido de sua natural insubordinação. E aí pode estar um dos endereços da explicação das recusas ao nome de Quintana: o alegretense morou em Porto Alegre desde que deixou sua cidade natal para cursar o Colégio Militar, até o fim da vida.
O fato é que nosso poeta – e digo nosso por ser gaúcho – não precisava morar na Capital. A cena literária porto-alegrense dava conta de prestigiar seus arautos. A Caldas Júnior, que publicava os jornais Correio do Povo, Folha da Manhã e Folha da Tarde, mais a Livraria e Editora do Globo etc., ostentavam um porte expressivo. Assim, Mário esteve ocupado em traduções de nomes como Proust, entre outros, e com suas obras e criações disponíveis em publicações de livros e em periódicos. Erico, outro ilustre despido de um fardão, era seu companheiro de trabalho. Por certo, não consta entre nossas façanhas o reconhecimento acadêmico brasileiro. E a pergunta que fica: isso mudou? Creio que não.
Nas artes plásticas, na música, na dança, teatro, cinema e literatura, por mais que existam queixas, Porto Alegre, bem ou mal, segue a sustentar seus “raivosos gauleses” culturais contra eixo Rio-São Paulo. Uma espécie de Polo Sul em termos de produção: longe, incompreendido e pouco explorado. Aqui, muitas vezes é mais fácil olhar para sul e para o oeste (Uruguai e Argentina) em busca de identificação, do que para o Brasil. Algo que concorre para o agravamento do caso. Desde muito, o “ser ou não ser” brasileiro nos diferencia.
– No Alegrete – poderia estar a dizer Quintana a Drummond – me consideram injustiçado.
Desnecessário lembrar que tal município é pertinho de Artigas, no Uruguai…