Todos sabemos o fundo que moveu a expressão de um homem deixar em vida o plantio de uma árvore, a criação de um filho e a escrita de um livro: legado. Nossa breve passagem pela existência é uma angústia tremenda, e imaginar-se continuado de alguma forma reconforta.
As árvores, em seu sábio silêncio, podem alcançar muitos anos para além de nossa partida. Não contarão para ninguém sobre a abnegada semeadura, o vigilante acompanhamento da mudinha e as tranquilas horas à sombra em que apoiamos nossas costas para respirar seu verde. Mas saberão. E, com sorte, suas próprias sementes haverão de gerar frutos.
Sobre filhos há duas questões: a genética e os valores. A primeira nos move desde as glândulas. Aliás, a nós e a toda natureza, né? A segunda, mais sutil, pode ser lida de modo equivocado como bens. Certo, há herança material envolvida nas famílias, mas me interessa mais aquela imaterial, a nossa cultura, hábitos e, vá lá, pendores. É lindo ver filhos seguindo nossos passos.
Os livros existem para fixar um pouco do que pensamos, sentimos, vivemos. É um sonho imaginar gerações futuras debruçadas por algum acaso em nossas páginas para nos escutarem a sussurrar em seus ouvidos histórias pretéritas. Diga um artista que não almeja a vida eterna e apresentarei um mentiroso.
Uma história triste, porém, também pode envolver árvores, filhos e livros. Como a de um amigo que perdeu sua família. De sua dor tombaram árvores para dar espaço a uma capela construída na propriedade. Ali repousa a memória do filho que partiu cedo e, nela, o único livro que se faz presente é a Bíblia. De alguma forma, templos alcançam ares de perenidade. Nem que seja para acomodar nossa esperança.