“Nenhum caminho de flores conduz à glória”
Jean de La Fontaine
Dentre as formas de interpretar esse ditado de La Fontaine (1621-1695), pai de muitos clássicos das fábulas que conhecemos, há uma otimista e outra pessimista. Otimista: é sacrificante o caminho, mas dá para chegar lá (na glória). Pessimista: se a vida lhe sorri, cuidado – poderá estar no caminho errado para a glória.
De uma ou de outra forma, escolhendo as flores, seu desejo é dialogar com a elite – o que seria bastante lógico recuando para seus delicados leitores do século XVII, num mundo ostensivamente iletrado.
Caso nosso querido fabulista fosse falar aos brasileiros do século XXI, talvez mudasse um pouco as metáforas botânicas. Algumas hipóteses:
“Nenhum caminho sem raízes conduz à glória”
Mais do que nunca, ou tanto quanto sempre, ter clareza de que ascendência conta pontos neste mundo é muito importante. É quando o reforço de auto-estima sobre as virtudes de nossos antepassados torna-se um saber necessário.
“Nenhum caminho sem tronco conduz à glória”
Há que se ter firmeza e altivez para almejá-la. Ser forte quando necessário e flexível o suficiente para não quebrar. Quanto mais elevado estiver o objetivo, tanto mais um tronco robusto fará a diferença.
“Nenhum caminho sem galhos conduz à glória”
Imaginar que tudo vai dar certo em buscá-la nem chega a ser um erro: é uma ilusão. Superar as dificuldades onde e quando apareçam fará a diferença entre o êxito e o fracasso.
“Nenhum caminho sem espinhos conduz à glória”
Um tanto mais cruel, esse ditado já avisa que há dores no seu caminho. Muitas, pois o esforço e a resiliência serão cobrados a todo instante e, sem eles, os ferimentos serão desanimadores.
“Nenhum caminho sem adubo conduz à glória”
Tá, esquece. É melhor evitar a escatologia – que os espinhos sejam a pior notícia.