Imagine a história: no final dos anos 1940, um político influente, casado, constrói uma, digamos, réplica de um castelo medieval gótico, no centro da capital gaúcha, para viver com sua amante de dezoito anos, mãe solteira. Depois do escândalo vir à tona, ele separa-se da esposa e vai morar com a moça, mais jovem que ele uns vinte e tantos anos. Tirano, frio e ciumento, a mantém sob tortura psicológica, por vezes física, presa no terceiro andar sem poder descer e nem se aproximar das janelas, longe dos olhos recatados da sociedade local, mas assunto fácil em pudicos eventos e cafés de fim de tarde.
O que aconteceu: a moça fugiu depois de ser ameaçada de morte pelo respeitado agressor, casou, teve outros filhos, se recolheu e viveu bem, até a morte aos noventa e oito anos. O político trocou de esposa e foi morar com ela no castelo entre aspas que ergueu. Nunca foi julgado, muito menos punido e, ouvi dizer, tem até uma sala com seu nome no Tribunal de Contas do Estado. O Castelinho foi vendido, virou boate, depois residência familiar, consultório de dentista, espaço cultural e, hoje, menos mal, é um atelier para artistas plásticos.
Agora imagine assim: uma mulher, casada, se apaixona por um homem mais jovem e, para mantê-lo sob sua paixão, manda construir um castelo medieval brega barra prisão para ele morar. Ao amado caberia manter segredo da relação, não sair sem estar acompanhado por ela e prometer amor e sexo fiel. Ela concederia sustento e mimos, como relógios e móveis finos de jacarandá e, de vez em quando, uns sopapos apaixonados, para reforçar que o amava muito. Talvez apontasse um revólver para sua cabeça, se desconfiasse de traição. Ele concordaria, crente e carente de amor que era.
O que poderia acontecer: o caso iria para os trending topics do machismo; a Inquisição seria chamada e a mulher queimada viva num parque da capital, aos pés de um moinho. O Castelinho seria demolido e o local exorcizado, em nome dos bons costumes e da família. O amante? Venderia a imagem de manipulado, viraria mártir, receberia placas e votos. Apoiado por conservadores de ocasião e políticos entre aspas, poderia até ocupar cargos, à princípio, descabidos, como ministro, senador, juiz, presidente da República, etc.
Melhor nem pensar…
A mulher queimada num parque, aos pés do moinho, é o must! Bravo, Gian!
Adorei a segunda parte da trama. Manteria segredo da relação. Carinho,