Acho que eu vejo um gatinho
Altino Mayrink
Todo mundo sabe o que é um gato. Sabe mesmo?
Um eletricista da companhia elétrica do estado vai discorrer muito tempo falando sobre os malefícios para a rede do uso de tais. O economista da empresa não deixará de medir as perdas de receita.
Em um torneio escolar, o número de reclamações pela presença de um nas categorias menores será inevitável. As separações por idade tem a sua razão de ser em atividades atléticas.
E os casos de polícia? As patrulhas noturnas sabem que eles são todos pardos em momentos de pouca luminosidade ou em ruelas e vielas por todas as cidades.
O pedreiro, nas suas inúmeras criações, ao erguer suas paredes, sabe que as amarrações deles precisam de uniformidade e sequência. Sem isso, como preencher adequadamente e garantir a verticalidade?
No erro do ditado, a melhor forma de se caçar sem um cão.
Para as moçoilas de outrora, aquele rapaz bem-apessoado com o qual ela se relacionou e tem lembranças e pesadelos até hoje.
Nos escondidos recantos dos developers – devs, para os íntimos –, aquele falso parente das gambiarras, execrável num bom código. Exige limpeza.
Mas quero falar mesmo é do intrigante felino caseiro, dono de seus donos e donas. Ao apresentar-se com um olhar simpático, um ronronar soltinho e um miado pequenininho, não existe um mortal que consiga resistir. Eu ainda vou ter um.
Ficar só convivendo com os dos amigos e amigas é muito pouco. Para tal, já estou arrumando minha casa, reduzindo as tralhas, minimalizando a existência. Viu como são nossos donos? Ainda nem tem nome ou figura e já está proporcionando uma guinada na minha vida.
Só não entendo porque minha tia sofre ao ouvir um simples miado…
Acho que, como o pequeno Piu-piu das animações, eu vejo um gatinho. Aqui em casa.