PARCEIROS
Felipe Anselmo Olinto
Onipresente no começo da vida escolar, pacientemente registrava garranchos e desenhos em alvas folhas de papel. Escrevia letras, palavras, coloria animais, arco-íris, pintava gente e suas vestes.
Silencioso, inteiro e com a ponta bem afiada, foi elegante parceiro na minha primeira fotografia em pose formal no Grupo Escolar Silva Paes. Na mão direita, próxima ao globo terrestre, me emprestou uma imagem de sabedoria e conhecimento que eu nem sequer tinha.
Personalidade forte, ao mal apontá-lo ou ao menor sinal em depositar alguma mágoa ou rancor sobre ele, imediatamente se rebelava e rompia seu filete de grafite – negando qualquer participação no trabalho mal feito ou no gesto pouco refletido.
Com algum constrangimento, mas não irresignado, vez por outra assumia a função de instrumento de coçar a cabeça ou a orelha.
Meleca do nariz? Jamais.
Seu irmão trabalhava no comércio. Pelo desígnio do destino não vivenciou a experiência de ser guardado no estojo abarrotado ou de estar presente nas alegres e barulhentas aulas do primário.
Despido da vestimenta de tabuada ou de cores vivas, preto, passava o dia na orelha do português do mercadinho.
Na escola, como no comércio, foram consumidos lentamente a cada desenho ou anotação.
Vingativos, ao terem seu espaço usurpado pela tal esferográfica BIC, em um esforço conjunto rogaram a ela a maior e pior praga do mundo.
Sucesso alcançado.
Em janeiro de 2019, pelas mãos de quem despreza a ciência e muito pouco aprendeu na vida, a BIC se tornou símbolo dos ressentidos e obscurantistas.
Já o lápis… carinho e gratidão pela deliciosa companhia.