Rafal Olbinski por Altino Mayrink

Ao céu de diamantes

Altino Mayrink

Minha alma roqueira me faz muitas vezes retornar aos clássicos que conheci no tempo de infância e adolescência. Ouvidas dos discos dos irmãos mais velhos, que já tinham escolhas mais estanques do que a minha ecletice.

Essa semana ouvi seguidamente uma das escolhidas dos Beatles: Lucy in the sky with diamonds. Quem já ouviu e conhece a história, acredita na visão alucinada e alucinógena da composição do quarteto de Liverpool.

A virada de visão foi provocada pela gravura de Rafal Olbinski. Nela, uma Nova Iorque, quase um céu, é inalcansável para aqueles que usam simples escadas na vontade de chegar lá. Essa visão foi questionadora das buscas inatingíveis que temos, e muitos dos emigrantes têm. Existem lugares superestimados, visões sobre-humanas de sua existência e desejo de viver nos paraísos que nos parecem. Pode ocorrer no macro – mudança de país – ou no micro – a troca de um apartamento por uma casa, por exemplo.

Eu mudei muitas vezes de cidade. Isso só me mostrou como não se deve esperar em demasia do que se vai encontrar na nova cidade-morada. Pessimista que sou, não tive maiores problemas quando fazia as piores expectativas do local que viria. O lucro a cada pequena vantagem que descobria ali, era fruto do nada esperar. Mas essa forma de ver é apenas minha.

As pessoas normais tendem a criar expectativas melhores do que a condição atual e vivenciam frustrações mesmo quando as mudanças lhes favorecem. Em outra escala, vem o que ocorre algum tempo depois de eleições. Os candidatos dos quais muito se esperava, pouco ou nada fazem o que as nossas esperanças depositadas neles previa, ou melhor, pedia ansiosamente.

A proximidade de eleições voltam a imprimir e conferir aos discursos e, principalmente, às expectativas dos eleitores uma aura de um céu de diamantes” para o futuro que se avizinha. Me pergunto: quantas vezes mais terão que acreditar em mentiras e calhordices ditas sem pestanejar pelos mesmos rostos e bocas já tão conhecidas?

Eu travei. Não tenho mais estômago para isso. Na era da informação, conferir os dados que nos são ditos é primordial e necessário. Só é enganado quem quer ou tem dificuldades cognitivas.

Mas não posso esquecer da má-fé dos que lucram com isso.


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