Descartável
Rubem Penz
Sempre que penso no volume e na natureza do lixo que produzimos todos os santos dias, sem folgar domingos nem feriados, aparece na mente uma imagem: obstáculos a nossa volta construídos para o colapso do qual não teremos saída. Por mais que o planeta seja grande – e ele é enorme –, nossa vida não acontece nas lonjuras ou nos cafundós. Ao contrário, a população poluidora está concentrada nos grandes centros urbanos e, paradoxalmente, é a mesma que sofrerá os efeitos do solo, da água e do ar estragados.
Não pode ser coincidência as tantas paisagens distópicas a nos assombrar em livros, filmes, documentários. A cada espécie em extinção, em todos os cenários de tragédia ambiental, sempre que vemos a natureza agonizar, surge a pergunta: até quando vamos esticar a corda antes de pensar nas consequências de seu rompimento? É sensato adotar a estratégia da avestruz, que enterra a cabeça no chão para não ver o perigo, ou vamos começar de uma vez por todas a escutar os alertas da ciência?
Na intimidade, tento recusar embalagens sempre que posso. Ilusão. Sem muita saída, produzimos em casa entre três e cinco sacolas de lixo seco por semana e, na base da fé, vemos o caminhão da reciclagem recolher plástico, papel, vidro e metais. Em termos de volume, a matéria orgânica descartada é muito menor – erva-mate, borra de café, cascas, ossos e papel higiênico. Felizmente preparamos alimentos em quantidades difíceis de gerar desperdício. Mas a sensação de fracasso é triste.
Sou alguém muito desiludido com a política, também. Ainda assim, como já escolhi ao menos o candidato a vereador, caso ele seja eleito, já tenho alguém para cobrar ações no sentido de atenuar o descarte irregular e, com projetos inovadores , reduzir a poluição. Do futuro prefeito – qual será, Deus do céu!? – cobrar a aceleração das obras do PISA e investir firme em saneamento básico. Mas, se nada avançar em mais quatro anos, terei eu jogado no lixo o voto. Em todo descartável.