O Padre e os Balões
Jefferson José Rodrigues Escobar
Sempre que vejo balões no céu, seu reflexo na água e a tranquilidade de os ver voando lentamente, lembro-me da tecnologia que teve que ser criada para tal façanha. Daí, involuntariamente, recordo-me do padre que decidiu sair do litoral do Paraná e dirigir-se ao interior do Brasil, Dourados, no Mato Grosso do Sul. Sem respeitar, estudar ou inteirar-se sobre as condições climáticas da região por onde iria circular.
Pergunto-me: qual era o objetivo?
Este senhor era um pároco de Paranaguá, no Paraná, que tinha tido alguma repercussão nacional ao denunciar agressões por parte de guardas municipais a moradores de rua. Houve punição e a situação foi resolvida. Não bastou. O padre resolveu juntar mil balões enchidos a hélio e decidiu voar até o interior do Brasil. No dia da viagem, juntou uma multidão entusiasmada. Todos crendo que aquilo era possível, algo como negar a esfericidade da Terra ou a evolução das espécies. O pároco foi. No começo, uns cem balões estouraram. Depois, uma rajada de vento jogou o homem para o Oceano Atlântico. O celular começou a falhar e o que se ouve por último do padre é a pergunta sobre como operar o GPS. Ou seja, o básico de quem quer navegar.
Não saberemos o objetivo de tal insanidade, porque alguns meses depois descobriu-se um torso humano no litoral de São Paulo e, após, exames de DNA, soube-se que era o padre. Levou consigo a razão de tal loucura.
Acredito era mitômano. Pensava ser protegido por Deus, que nada lhe atingiria e que a ciência era bobagem. Assustador! Sempre que vejo balões no céu, seu reflexo na água e a tranquilidade de os ver voando lentamente, lembro-me da tecnologia que teve que ser criada para tal façanha. Daí, involuntariamente, recordo-me do padre que decidiu sair do litoral do Paraná e dirigir-se ao interior do Brasil, Dourados, no Mato Grosso do Sul.