Tetê Lopes em foto de Flávio Wild

Conselhos de pai e mãe

Tetê Lopes

Meu pai dizia: Menina, ao sentar no ônibus, deixa as pernas bem fechadas! Eu logo esquecia a obrigação, não sabia o motivo para aquele cuidado. Divertia-me a conversar com as colegas que faziam o mesmo trajeto, do Menino Deus até a avenida João Pessoa, sem atentar para o que seriam modos de garota bem comportada.

Meu pai dizia: Guria, deixa de ler tanto! Larga esse livro, ou vai precisar de óculos logo cedo! Como obedecer e abrir mão de todos os prazeres que a literatura me trazia? Como desistir de conhecer todos aqueles mundos que se revelavam ao meu olhar inquieto? Seguia lendo, às escondidas. Sigo lendo, com ajuda dos previsíveis óculos.

Meu pai dizia: A virgindade é o maior tesouro que uma moça direita possui! Isso era lá nos anos 1970, e ele só traduzia o que a moral vigente expressava. Casei-me grávida, e o fruto da rebeldia tornou-se o neto muito amado.

Eu dizia para meu filho bebê: Dorme, filhinho, do meu coração… Ele arregalava os olhos e seguia querendo descobrir infinitamente o que o mundo tinha para mostrar-lhe. Segue assim até hoje, dormindo pouco e ávido pelos milagres da vida.

Eu dizia para meu filho criança: Estuda, guri, estudar é descobrir o universo! Ele preferia brincar, ouvir música… Quem há de dizer que não estava desvelando seus próprios universos?

Eu dizia para meu filho adolescente: O respeito é tudo. Se não respeitas a preferência de tua namorada por usar saia curta e mostrar as belas pernas, não poderei aceitar tua atitude, não poderei respeitar que tenhas sentimento de posse por outra pessoa. Ele capitulou – quem diria? – e a convivência familiar enriqueceu-se.

Hoje, meus filhos adultos dizem para seus filhos, tentam também transmitir seus valores e afetos, e me vejo, por vezes, em seus gestos. Sinto-me então incluída nesse mágico ciclo da vida, em que uma pequena parcela de uma geração é transportada, de pouco em pouco, para um desconhecido e almejado futuro.


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