Sonhos inusitados
Renata Cardoso Vieira
Sofro de uma espécie de déjà vu quando vejo balões. Não importa as cores, os tamanhos ou formatos, ao ver um conjunto de balões minha mente divaga sempre para a mesma lembrança: um padre voando com balões. Poderia ser até engraçado, pensando que o filme “Up: Altas Aventura”, de 2009, retrata algo parecido, com um vendedor de balões que, aos 78 anos, está prestes a perder a casa em que sempre viveu com sua esposa, a falecida Ellie e que, para evitar que isto aconteça, põe balões em sua casa, fazendo com que ela levante voo. Uma história emocionante, cativante e surpreendente.
Mas muito diferente da história do Padre. No dia 20 de abril de 2008, o padre Adelir Antônio de Carli, 41 anos, levantou voo com cerca de mil balões de festa cheios de gás hélio às 13h de um domingo, no sul do Paraná. Dizem que o objetivo dele era chegar à cidade de Ponta Grossa, mas acabou sendo desviado do trajeto pelo vento e caiu no mar. Depois de alguns dias de buscas e ansiedade, o corpo do padre foi localizado por uma embarcação na costa de Macaé (RJ). Fim trágico para um sonho inusitado.
Mas o que levou um padre a buscar as alturas? Que desejo leva alguém a escalar o Everest? Ou competir numa maratona sem nunca haver treinado antes? Por que almejar realizar tarefas ou planos que impõem tanto sofrimento a si mesmo e ao seu limitante corpo humano? Será uma síndrome de super-humanos ou super-heróis? Não sei dizer ao certo. Talvez nunca entenda bem. Mas o fato é que ao ver pessoas realizando sonhos inusitados me pergunto se falta algo no meu DNA, uma vez que uma simples rotina misturada a simples prazeres já me satisfaz.
Talvez o que mova esse mundo seja as diferenças nos desejos humanos. Talvez o que movesse o padre não fosse a perspectiva de chamar a atenção para alguma causa nobre; talvez fosse apenas um sonho infantil de estar perto das nuvens… Vai saber. Contudo, independente da razão em si, o fato é que os sonhos movem as pessoas e as pessoas giram as engrenagens do mundo. E é o DNA que proporciona tanta diferença!
O acidente envolvendo o padre recebeu o Darwin Awards, um prêmio internacional cujos vencedores tiveram mortes acidentais inusitadas. Segundo o site, a premiação “saúda a evolução do genoma humano” porque os genes dessas pessoas não serão perpetuados. Sorte nossa, simplistas em essência, que poderemos ver balões apenas como balões novamente.