E o palhaço, o que é?
Rubem Penz
– Hoje tem palhaçada?
– Tem sim senhor!
Bordão do Carequinha
Interessante: o marketing já não liga mais para compra e venda no aspecto tradicional. Já não foca em promoção, preço, vitrine, anúncio, facilidades de pagamento. Abandonou até o recentíssimo conceito de… “conceito”. O último grito é propiciar ao cliente uma experiência. Nela estará contido um sem número de emoções, uma verdadeira transformação, um portal para existências insuspeitadas. Ah, o marketing e sua eterna busca pelo exótico para servir enlatado.
Pois vou contar uma para vocês. Das experiências mais radicais e transformadoras que passei, ela própria esteve distante léguas dos ditames mercadológicos. Refiro-me à Oficina de Clown ministrada pelo palhaço espanhol (ou melhor, galego) Iván Prado. Do tipo imersiva, por três dias roubou a rotina e sequestrou minh’alma para o universo paradoxal do humor. Entrei de gaiato na canoa e sem fazer a menor ideia de quantos paus levaria. Pensava: há de me ajudar na desinibição (como se fosse um tímido) e traquejo de palco (como se fosse um neófito). Saltei do ânimo ao arrependimento e outra vez ao ânimo como quem está na cama-elástica. Punk em grau dez.
A falta de espaço na crônica impõe um atalho: preciso partir ao âmago da questão, para a descoberta iluminada, para o salto de olhos vendados. Segundo Iván, e segundo o que vivenciei, o sucesso do palhaço é o fracasso da humanidade. Uma imolação em praça pública para nos salvar. Um jogo pesado de significação e ressignificação capaz de fazer rir, quando o certo seria chorar. A lona do circo é tecida por medo e dor.
Um dia, quem sabe, os mais altos executivos de marketing e as cabeças coroadas da criação publicitária descobrem o palhaço, e o que ele é ali, no duro. Será a maior fogueira das vaidades, um tsunami de teorias, um Titanic a plena máquina encontrando o iceberg final. Fracassos, eles sim, são grandes experiências. Sim senhor!