Muitas Vidas
Ângela Puccinelli
Hoje um médico, ontem um guerreiro medieval, amanhã um louco.
Esta é a beleza de ser ator. Representar muitas vidas.
O papel que mais gostei?
Quando criança, interpretei um urso. Não gostei. Não me sentia urso.
Na adolescência foram muitos personagens, gostei da maioria.
Já adulto, têm sido tantos…
Papel de mãe achei difícil, muito difícil. De pai, sempre odiei.
Não tem como não lembrar meu pai, sempre maldizendo os artistas, são maconheiros,
desocupados, viados, vagabundas.
Uma vez fiz um pai muito escroto e fiquei híperimpressionado. O público e a critica me
elogiavam. Certo dia, estava enchendo o saco de um sobrinho, e ele, de súbito me fala,
“tio, sai do personagem”. Caí na real.
E meu pai? Ah, já passou…não, ele nunca foi assistir uma peça, nem nenhum dos
meus filmes.
Há uns cinco anos, interpretei um nobre que tinha um amante bem mais jovem.
Meu pai, ao saber que teve cena de beijo, foi logo concluindo: eu falei, que gentinha!
Ele é quem perde. Já perdeu o filho, perde também a arte.
Se eu ainda tenho sonhos? Claro, sempre.
Quem não sonha está morto e eu estou vivíssimo.
Ainda quero ser um rei bem poderoso, quero ser um músico, quero atuar em novela.
Talvez Hollywood. Sem limites.
Um epitáfio?
“O cara foi tão bom ator que conseguiu interpretar até a si mesmo”.
Adorei!
Ha, Ha, Ha. Obrigado!