Remorso
Jane Maria Ulbrich
Paciência Juvenal! Tanto tempo havia trabalhado para comprar seu material para aulas de mergulho. Em uma manhã, depois da aula que o professor lhe dava generosamente e quando possível, ficara distraído a divertir-se, não percebendo o tempo passar. Quando se deu conta da hora, já não havia tempo de ir e
m casa. A mãe bateria nele se perdesse a escola e o proibiria de mergulhar. Sem outra opção, guardara tudo bem escondido no barco do seu pai. Viria buscá-los na saída da aula. Não podia levá-los junto, para não denunciar o motivo do seu atraso.
Correu tão rápido quanto pode e a desculpa esfarrapada, não o poupara de ficar retido na escola no final da tarde, refazendo os temas que deixara prontos em sua casa. Com sua demora, a mãe enviou o irmão mais velho em seu encalço e na volta para casa, também não escapara da surra, ficando proibido de ir à praia durante um mês.
O pai, pescador respeitado, estava internado, tratando uma velha tuberculose relutante em o abandonar. Juvenal sabia que ninguém iria mexer no barco do pai, portanto, suas coisas estavam bem guardadas. Não podia correr riscos e desobedecer a mãe, sob pena de tão cedo não voltar a mergulhar.
O calor, em algum lugar do planeta, cobrou seu preço. Quase no fim do período de castigo, após noite e madrugada nervosa, ventos intensos, com muito medo, Juvenal tremia por não saber o que estava acontecendo na praia. A mãe não permitira que seus oito jovens filhos saíssem. Já bastava a angústia pelo pai hospitalizado, dizia ela. Passaram a noite rezando para que o ganha-pão do pai não fosse levado pelas águas. Juvenal os acompanhava, mas, com um pedido bem diferente.
Pela manhã, calmaria. A água avançara em fúria na praia. O barco do pai foi encontrado muito distante, sem o material de Juvenal. Esperançoso, seguira a busca, cada vez mais aflito. Dias de caminhada na areia molhada, suja e ele localizara apenas um pé-de- pato. A vida retornando ao de sempre, exceto pela desesperança de Juvenal.