Ângela Puccinelli em foto de Lia Zanini

Não somos feitos de argila

Ângela Puccinelli

De que somos feitos, afinal?

Todos querem moldar uns aos outros, como se fossemos vasos de argila, que após

serem arrancados das rochas, tem um longo caminho onde vão sendo trabalhados,

moldados até ficarem certinhos, secos em fogo ardente e assim transformados em lindas

ou toscas peças de cerâmica.

Com certeza aprendemos e absorvemos muito das pessoas que nos

cercam: pais, irmãos, professores, amigos. Gente que tem amor e ensina, gente que não

tem amor e também ensina. Todos nos deixam suas marcas.

Mas diferentemente do barro, que tem sua tonalidade dada pelos óxidos, e suas

características físicas mudadas pelo forno de alta temperatura, nós temos

personalidade, alma. O que nos torna únicos.

Trabalhamos internamente todas as influências que vamos recebendo.

Digerimos. Regurgitamos. E assim vai se formando o caráter de cada um.

Com cerâmica, a mais antiga das indústrias, se faz vaso, casa, dente, tanta coisa.

Até componente de foguete. Com pessoas, se muda o mundo.

Assim como a alquimia do fogo transforma argila em cerâmica, a vida

nos transmuta: em almas brutas, primárias ou bonitas e sofisticadas.

Mas não objetos e sim em seres humanos.

De que somos feitos, afinal?

De argila é que não é.

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