3 Carlos Hirschmann

Dez minutos

Dez minutos… o que é possível fazer em dez minutos? Meditação. Correr dois ou três quilômetros. Planejar o dia. Colocar seu filho no colo e contar uma história. Conversar com um amigo. Passar um café. Fazer uma caminhada. Sentar ao sol da manhã e recarregar o organismo com Vitamina D e bom humor. Ouvir música. Apreciar o silêncio da casa.

Dez minutos. Cada vez que o relógio sinaliza esse tempo, uma criança é morta na Faixa de Gaza, segundo dados da ONU.  Casas, escolas, hospitais viram poeira e entulho. Os números atrozes revelam que mais de 15 mil crianças e adolescentes já foram mortos e um milhão precisam de apoio psicológico. Traumas, dor, orfandade, fome, desabrigamento, violações. A alegria genuína, pura e inocente silenciada pelos bombardeios.

Entre as crianças vítimas da guerra está Omar. Sete anos de idade. Perdeu os pais e o irmão gêmeo e teve que ir viver com a tia.  O porta-voz da Unicef, James Elder, relata num vídeo, que o menino fecha os olhos por longos momentos, pois tem medo de também perder a imagem dos pais e irmão, como aconteceu na vida real. Fecha os olhos para continuar a vê-los. A inocência, a segurança, o afeto familiar, a casa, a liberdade para brincar na rua, a escola, os amigos, tudo interrompido pelo silvo dos foguetes disparados entre Gaza e Israel. Crianças fecham os olhos, como Omar. Ou olham para o nada. Para fugir, mentalmente, da guerra. Crianças de Gaza fecham os olhos e não dormem como nossos filhos. Não olham para o amanhã, como nossos filhos.  Estão desprovidos de afeto, de colo e de todos os mecanismos de proteção. Muitas estão em cativeiro, moeda de retaliação no conflito. Nada pode ser mais estúpido!

Dez minutos para refletir e sensibilizar. Descuidar da criança e comprometer a família humana. A infãncia tem direito a cuidado e atenção especiais. A criança tem direito a ser educada com espírito de paz, dignidade, tolerância, amor, liberdade, igualdade e solidariedade. E direito ao acesso à segurança, à saúde, à cultura, à vida, ao desenvolvimento saudável. Deve ser protegida de todas as formas de violência, física ou emocional. E em caso de conflito armado,  devem ser respeitadas as normas de Direto Humanitário Internacional  a ela aplicáveis.

Dez minutos para mutar o coração em prece. Prece pelos meninos e menicas mortos nos conflitos armados em Gaza e na Ucrânia. Pelos pais e avós que não ouvem mais seus risos. Pelos rostinhos tristes e assombrados, no meio dos escombros. Pelas famílias destroçadas. Por todos aqueles que atuam no direito humanitário. Prece para que as violações graves nas guerras sejam punidas: ataques às escolas e hospitais, rapto de crianças e adolescentes, abusos, negação da ajuda humanitária. Prece para que, ao imvés da omissão, os  líderes mundiais celebrem acordos pela pacificação das desavenças,

Dez minutos para fechar os olhos. Como o pequeno Omar. Para não esquecer da nossa humanidade.  Imaginar a paz…com o rosto, o sorriso moleque e a inocência de um menino, passeando entre os pombos no parque, enquanto os pais o esperam, sentados num banco, logo mais adiante. E que a guerra seja só a da canção do Roberto Carlos: “Vi minha esperança na voz de um menino/Que sorrindo me acompanhava/Outros que brincavam mais além/ Deixavam de brincar pra vir também/E cada vez crescia mais aquele batalhão de paz/Onde já marchavam mais de cem.”

Dez minutos para escrever e inflar e inflamar o batalhão pela paz!



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