1 Carla Penz

Play it again

Quando penso nela, penso na menina má de Vargas Llosa, Aquele livro que ele escreveu como uma história de amor não convencional. 

Lígia era linda. Tinha seus interesses. O principal, buscar seu próprio bem estar. Mas quem não procura o próprio bem estar? 

Fora esse interesse principal, os outros interesses mudavam constantemente. Com pouco mais de um ano de nosso relacionamento, ela queria casar. “Alberto, vamos nos casar. Aí tu aluga um apartamento na Cidade Baixa e moramos lá.” Tendo saído de um casamento longo, divórcio atribulado, filhos transtornados, eu não queria outro casamento. Vez por outra, eu encarava um muxoxo da parte dela.

Houve um momento em que nos víamos apenas uma vez por semana. “Alberto, o que tu precisa para que nos vejamos mais?” Naquela época, ainda com o casamento falido na memória, eu também resistia ao que eu considerava certa sofreguidão desnecessária. 

Certo é que se passaram os meses e os meses viraram anos. Comecei a sentir necessidade de vê-la com mais frequência. Então foi a vez dela dizer que os nossos encontros continuariam raros. “Sim, Alberto, tu tem a tua vida, eu tenho a minha, e esse arranjo está bom.”

Além desses encontros, às vezes viajávamos. Sempre temos praias e serra perto de Porto Alegre. Em geral eram bons. Mas também, vez ou outra, acontecia algum desentendimento. Lígia não era fácil. Eu também não, “como tu é teimoso, Alberto!”

Talvez nosso auge tenha sido nossa viagem para Natal. Sabe a piada? Na capital do Rio Grande do Norte, todas as árvores são de Natal! Pois bem, compramos um pacote turístico, financiado em dez vezes e lá fomos. Foi bom. Passeios, em especial bugues nas dunas. O clima de um calor agradável. As praias lindas. Ela adorou as praias. Os dias correram fantásticos. 

Contudo, na hora de voltar, ou talvez até por termos que voltar, conseguimos nos desentender na hora de fazer as malas. Uma chamada de atenção, uma resposta ríspida e o céu virou inferno. Ou talvez nem tanto, só a alegria virou tristeza. 

E aí, imagine as horas e horas de voo entre as capitais dos Rio Grandes, com uma pessoa emburrada (não, não, não estou chamando a pessoa de burra, emburrada é uma forma de dizer que a pessoa está de mau humor e faz questão de demonstrar isso). 

Chegamos e cada um foi para a sua casa. 

No encontro seguinte selamos a separação. Não me lembro por que resolvi falar naquele dia, “nós sempre teremos Paris.” “Paris?” ela perguntou. “Quero dizer, Natal!” Me lembrei de Ilsa Lund debruçada sobre o piano (ou seria sobre o balcão do bar?) pedindo a Sam que tocasse ao piano As Time Goes By.



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