Dio Santanna em foto de Andréa Steiner

 

Ângulo

Dio Santanna

 

Quem sabe menos incompletude. Menos noite. Menos vastidão.

Quem sabe assim, essa varanda não parecesse tão íntima. E num átimo de tempo, tão estranhamente minha.

Quem sabe é a dor. Ou eu ou você. O triângulo. Ou os dois. Ou melhor, os três.

Quem sabe era para ser. Não era para sempre. E assim foi. Se entregou. E agora se vê. E vê os dois.

Quem sabe uma noite assim, de varandas vazias por dentro, nos fale mais. E nos leve além. Mesmo quando tudo parece ainda tão embaçado.

Quem sabe essa lucidez fosse menos dolorida se a loucura tivesse sido sob medida. Quem sabe as diferenças façam mesmo diferença.

Quem sabe o tudo dependa do nada, e ao existir, nos inquieta, nos salva da inércia. E nos faça um dia mergulhar, outra vez, no abismo de um outro alguém. Um jogar-se inteiro. Submergir. Quem sabe.

Quem sabe o que nos faltou foi delírio.

Quem sabe a falta de consciência da nossa finitude tenha sido cúmplice e estas relações líquidas que movem o mundo, tenham nos devorado.

Quem sabe estar aqui é o mesmo que estar ali, no vazio da varanda a contemplar-me. A inundar-me de talvez. Quem sabe nas minhas buscas frustradas de felicidade, quem me faltou fui eu.

Quem sabe esta boca seca, que corta o beijo, volte a parir palavras. E desejos.

Quem sabe a noite. As palavras. A solidão. Me saibam mais que eu mesma. Quem sabe.

Quem sabe essa alma contida. Alma de não ser. Extravase poesia. E se desconheça ou, reconheça.

Quem sabe não é o triângulo. Nem eu. Nem você. É o ângulo. E então

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