O canto da sereia
Iara Tonidantel
Tristão e Eros.
Companheiros de uma mesma história.
A vida, dita normal, não conseguiu seduzi-los. Trabalharam, constituíram várias famílias, amigos. A cada dia riscado no calendário, sentiam-se mais sufocados, solitários. Cotidianos. Buscaram em alguns vícios a manutenção do impossível. Desencantos.
O menino que os habitava e o som do canto, a beleza e as asas das sereias foi mais forte. Fugiram de suas paredes para um mundo sem portas e com pouco teto.
Foram muitos os prazeres vividos.
Dias e noites de total embriaguez. Amantes diversas de vários tons de pele e pelos. Cobertores de várias tecelagens. Locais inusitados. Conheceram indivíduos em demasia. Relações superficiais, dinâmicas. Gastronomia variada. Provaram de todos os temperos. Tiveram risos. Lágrimas também.
Assim o tic tac, o bater das ondas no mar, as estações passaram por eles. A infância os acompanhava.
Se arrependimento pela escolha houve, somente a eles coube sentir. Optaram pelo não compromisso, pelo não amor, pelo andar com muitos e não estar com ninguém, pelo inusitado, pelo não a qualquer tipo de segurança.
Em uma esquina, se reconheceram. Sem palavras. Só olhares trocados. O início de uma parceria.
Há estradas que só conseguem ser trilhadas por iguais.
As sereias os aguardam.
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