Há uma crueldade muito grande em adotar alguns critérios estéticos como referentes às intenções e índoles das pessoas em geral, de modo grave às mulheres. Fadas: lindas, jovens, brilhantes. Bruxas: feias, velhas, opacas. Dois seres dotados de poder e magia, uns movidos pelo bem, outros pelo mal. Virtude como monopólio da graciosidade. Torpeza irmanada com a deformidade.
Não é exagero, não. Basta recorrermos aos clichês: como são as “mãos de fada”, lisas ou enrugadas? Sedosas ou ásperas? Harmônicas ou nodosas? Leves ou pesadas? E os “cabelos de bruxa”, seriam penteados ou rebeldes? Sedosos ou ressequidos? Por fim, duas mulheres que entrem na sala, uma vestida como uma fada e outra como uma bruxa, minimamente se parecem? A mesma mulher se pareceria? Ah, as aparências…
Por isso que Leandra não compreendia a estratégia de Margarida para a imagem do perfil nas redes sociais (uma bruxinha) nem o desleixo de sua foto nos aplicativos. Fosse ela, escolheria fada e photoshop para atrair o interesse dos rapazes.
– Você não entende nada, Leandra. Só Peter Pan gosta de fadinha. Procuro homem que já cresceu.
– Mas os mais bonitos sempre vão escolher as mais bonitas! – rebate a confidente. – E você é uma graça, é só dar uma ajeidadinha aqui e ali.
– Se me julgarem pela aparência, terminarei prisioneira da estética. Sentiu a armadilha? Quero me apresentar como uma mulher real.
– E a bruxa? Por que a bruxa?
– Vacina para os dias ruins… Fada é foda: é muita bondade presumida num só corpinho.
– Tá, tem lógica. E o plano tem dado certo?
– Médio.
– Por? – Leandra pede com as mãos para Margarida dar detalhes.
– Porque alguns esperam conhecer uma mulher feia, insegura e subserviente. Quase agradecida. E se assustam comigo. Acham que fui maliciosa.
– Não espere que todos reconheçam a dimensão de uma feiticeira…
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