Ciranda de sabão

Quem vem lá, quem vem lá, tão longe, tão longe? É a criança brincando com bolinhas de sabão. Lá vem ela, toda faceira. Soprando o arco e enchendo ao seu redor com aquelas belezuras coloridas pela luz do sol. De repente, larga tudo e corre atrás das bolinhas. Pula e bate palmas para estourá-las e completar a brincadeira.

Alecrim, alecrim dourado que nasceu no campo sem ser semeado. Se no campo é o alecrim, na cidade, nos seus terrenos baldios, é a mamona que nasce assim – sem ser semeada. Na casa onde cresci havia um pé de mamona no terreno ao lado. Minhas irmãs e eu nos debruçávamos no muro para tirar os galhos da planta e, com os canudinhos, fazer bolas de sabão. Ainda sobravam as mamonas para brincar de guerra no final.

Quanto mais a gente brinca, mais a brincadeira esquenta e contagia todos em volta. É gostoso ver não só a criançada se divertindo, mas gerações reunidas em torno das bolinhas de sabão. Ela é democrática, não importa a idade ou o preparo físico, todos podem dela participar. Brincar é mágico. Une as pessoas. Naquele momento, adultos veem o mundo pelos olhos das crianças. E nada mais importa a não ser brincar.

O meu coração voou pelo céu. Subiu de vapor e desceu de papel. Enquanto as pessoas conseguirem se conectar às crianças, terei esperança na humanidade. Elas acreditam nas promessas feitas, choram quando o amigo se machuca, buscam parceiros de brincadeira, ficam felizes em explorar o mundo e se divertirem com isso. Não acredito que o homem nasça bom e a sociedade o corrompa, mas perdemos algo importante no curso do processo de socialização. Precisamos recuperar!

Se essa rua, se essa rua fosse minha, não colocaria brilhantes, só despertariam inveja. E sem pedras, por favor, ainda que pequenininhas. Colocaria mais brincadeira. Bolinhas de sabão, certamente. Assim, quem viesse de lá poderia vê-las de longe e saberia aonde chegar.

Nós vamos cantar agora, não deixamos pra depois. É nove, é oito, é sete, é seis, é cinco, é quatro, é três, é dois.

 

  • Os trechos das músicas infantis contidas nessa crônica foram extraídos do livro: Marques, Francisco [et al]. Brasil for children: 30 canções brasileiras para brincar e dançar. São Paulo: Petrópolis, 2015.

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