Rubem Penz em foto de Marcelo Leal

Horizonte

Rubem Penz

E o horizonte, imenso, aberto, sugerindo mil direções

E eu nem quero saber se foi bebedeira louca

Ou lucidez

Horta & Brant

Há quem considere o litoral gaúcho a preguiça de Deus: depois de desenhar os contornos cheios de vilosidades formando as lindas baías de Santa Catarina, há um traço reto Uruguai adentro. Discordo.

Nosso milagre é esse: ainda em terra, estar diante do oceano e sorver dele, a cada visada, o colosso de sua magnitude. Paisagem tão limpa quanto se estivéssemos embarcados, acrescida de ondas a quebrar na areia branca. Amanheceres luminosos e ocasos cheios de cor e nuances.

O completo impacto de uma ressaca mais forte e toda a grandiloquência de uma tempestade também podem ser experimentados em nossas praias. Não há como fugir, não há respiros. Aqui no Sul, quando o vento bate, bate sem resistência, corre e faz voar a areia do chão. Quem experimenta, não esquece.

Nosso sol torra e nossa água congela. Entre um e outro, a coragem esgrima com a covardia. Entrar correndo no mar, ou deixar o corpo ir absorvendo o hiato inconciliável de temperatura? Não existe resposta certa entre tais alternativas – ambas carregam a dor do choque. E é assim, além disso, que um corpo se sente vivo, exposto. Nada de amenidades.

Lindíssimo o litoral cearense, pernambucano, carioca. Paulista, baiano, potiguar. Turistas banhados de bronzeador e delícias. Enquanto isso – por que não? – chego na casa da Praia do Barco, visto os chinelos e passeio na paisagem que sei de cor. Nada de novo, nada com o menor glamour. Só um horizonte a me deixar do tamanho certo, tamanho nenhum. E, assim mesmo a me sentir grande como nunca serei.

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