Joyce Kitchell por Graciella Tomé

Nossos coletivos era assim

Graciella Tomé 

Desde o guardanapo, tudo era pensado. Armava-se o teatro de espaço na própria mesa para recebê-los pois vinham de longe.

A melhor toalha, aquela de linho bordado, colocava-se de molho para clarear aos olhos do sol, e as louças da cristaleira a serem lavadas. O aviso vinha sem som, não precisavam palavras, as visitas iriam chegar.

O chá de maçã, sem esquecer umas gotinhas de limão siciliano, ficava a ferver no fogão a lenha. Os talheres, já lavados de antemão e passados em água quente, brilhavam sobre a toalha engomada.

Receber brindava a vida de forma igualitária: dos que já estavam, como, também, dos que se chegavam. Eles vinham de longe, porém, seus corações se escutavam de perto. Mútua dignidade, assim eram os coletivos. Faziam por nós, pois, rebuscavam nosso melhor.

O melhor mel e pão assado iam à mesa juntamente aos torrões de açúcar, e, ainda com água na boca, as flores do jardim eram colhidas.

Hoje, quando ouço referências aos coletivos de músicos, artistas, ambientalistas, próprias moradias, lembro que receber quem vem de longe faz nossa formação se superar.

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